Preparação para o primeiro ciclo de FIV: estratégias e conselhos

Nesta página:

Compreenda o processo da FIV

Como se preparar emocionalmente para a FIV

Como se preparar fisicamente para a FIV

Testes de fertilidade: o que esperar

Medicação para a FIV: o que esperar

Planear a sua rotina em função da FIV

Criar um sistema de apoio eficaz

Dinheiro, logística e tarefas administrativas

Preparar-se para a espera de duas semanas

Depois do primeiro ciclo de FIV

Compreenda o processo da FIV

Antes de começar a preparar-se para a FIV, é útil compreender em que consiste o processo. A FIV (fertilização in vitro) é um tratamento de fertilidade no qual os óvulos são recolhidos dos ovários e fertilizados com espermatozoides num laboratório. 

Se se formarem embriões, um ou dois podem ser transferidos para o útero, na esperança de que se implantem e deem origem a uma gravidez.

Etapas típicas no processo de FIV

• Testes de fertilidade e rastreios
  Antes de iniciar o tratamento, será feito um conjunto de exames à paciente e, se aplicável, ao parceiro. Estes testes avaliam os níveis hormonais, a reserva ovariana, o útero e os ovários, bem como a qualidade do esperma. Os resultados ajudam a equipa médica a definir o plano de tratamento mais adequado.
• Estimulação ovárica com medicação hormonal
  Durante cerca de 8 a 14 dias, é necessário administrar injeções hormonais diárias para estimular os ovários a produzirem mais óvulos do que o habitual. O objetivo é recolher vários óvulos maduros num só ciclo para aumentar a probabilidade de sucesso.
• Monitorização com ecografias e análises ao sangue
  Durante o processo de estimulação, a clínica monitoriza o progresso através de ecografias e análises ao sangue. Isto permite observar o desenvolvimento dos folículos e saber quando os óvulos estarão prontos para ser recolhidos.
• Recolha dos óvulos (punção ovárica)
  Quando os óvulos estão prontos, realiza-se um pequeno procedimento para os recolher dos ovários. Normalmente, é feito com anestesia e no próprio dia pode regressar a casa.
• Fertilização no laboratório
  Os óvulos são misturados com espermatozoides (do parceiro ou de um dador) para tentar criar embriões. Nalguns casos, pode ser usada uma técnica chamada ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide), em que se introduz um único espermatozoide diretamente no óvulo.
• Cultura e seleção embrionária
  Durante os dias seguintes, o laboratório monitoriza o desenvolvimento dos embriões. Os de melhor qualidade são selecionados para transferência ou congelamento para uso futuro.
• Rastreio genético embrionário (se aplicável)
  Alguns embriões podem ser analisados para despistar alterações genéticas antes da transferência. Este processo é chamado PGT-A (para aneuploidias) ou PGT-M (para mutações genéticas específicas). O rastreio pode ajudar a identificar embriões com maior probabilidade de originar uma gravidez saudável. Nem todas as pessoas precisam ou optam por fazer este rastreio. O médico ajuda a decidir com base no historial e plano de tratamento.
• Transferência embrionária
  Os embriões são colocados no útero através de um cateter fino. É um procedimento rápido e geralmente indolor. A maioria das pessoas pode retomar a rotina normal no mesmo dia, salvo indicação médica em contrário.
• As duas semanas de espera até ao teste de gravidez
  Depois da transferência, é necessário aguardar cerca de 12 a 14 dias até fazer o teste de gravidez por análises ao sangue. Esta fase pode ser emocionalmente exigente, por isso, planear atividades leves e procurar apoio pode ajudar.

Cada etapa tem o seu próprio ritmo e pode parecer intensa, especialmente quando tudo é novo. Por isso, saber como se preparar para FIV com antecedência pode ajudar a sentir-se mais estável e preparada para o que aí vem.

Para mais informações sobre o processo, pode consultar o nosso Guia de Iniciação à FIV. 

Como se preparar emocionalmente para a FIV

Iniciar um ciclo de FIV não é apenas uma decisão médica. É também uma experiência emocional. Para muitas pessoas, este não é o primeiro passo no seu processo de fertilidade. Pode já ter passado por meses ou anos de frustração, ou sentir-se em luto pelo facto de precisar de ajuda para engravidar.

Segundo a Dra. Alexandra Grade Silva, psicóloga na Ferticentro:  

“Todos estes sentimentos são válidos. Tirar um momento para se ouvir emocionalmente antes de iniciar o ciclo faz parte da preparação para a FIV.”

A Dra. Alexandra Silva recomenda as seguintes estratégias para se preparar emocionalmente:

1. Crie espaço para os seus sentimentos

É normal sentir esperança num momento e estar completamente assoberbada no seguinte. A FIV pode despertar emoções como entusiasmo, culpa, medo, frustração ou tristeza, às vezes tudo no mesmo dia. Em vez de ignorar essas emoções, tente identificá-las. Escreva-as. Diga-as em voz alta a alguém em quem confie. Não tem de estar sempre positiva. Só precisa de ser honesta consigo mesma. 

A Dra. Alexandra Silva aconselha:

“Tente não julgar as suas emoções como boas ou más. São mensageiras. Quanto mais as reconhecer, menos poder terão sobre si.”

2. Converse com o seu parceiro (ou com as pessoas que lhe são próximas) 

Se tiver um parceiro, falem abertamente sobre como se sentem e sobre o tipo de apoio que precisam. Podem ter estilos de lidar com a situação diferentes, e isso é perfeitamente natural. Se está a fazer FIV sozinha ou com recurso a um dador, pode ser útil reunir um pequeno grupo de pessoas de confiança a quem recorrer quando precisar. Não precisa de uma grande rede de pessoas, bastam poucas, mas que estejam realmente presentes.

A Dra. Alexandra Silva recomenda:

“Seja clara sobre o tipo de apoio de que precisa. Algumas pessoas são ótimas a ouvir, outras são mais práticas. Diga à sua rede de apoio o que é mais importante para si.”

3. Defina limites quanto a conselhos e opiniões 

Quando começa um ciclo de FIV, é comum receber comentários, sobretudo se já partilhou os seus planos com alguém. Pode ouvir conselhos não solicitados ou frases como “relaxa” ou “vai correr bem”. É legítimo proteger o seu espaço emocional. Pode dizer algo como: “obrigada por te preocupares, mas neste momento não estou à procura de conselhos” ou “daremos novidades quando nos sentirmos prontos”.

A Dra. Alexandra Silva refere:

“Estabelecer limites é um ato de autocuidado. Tem todo o direito de priorizar o seu bem-estar, especialmente numa fase tão vulnerável.”

4. Pense no que a ajuda a sentir-se calma e presente

Algumas pessoas sentem-se mais equilibradas a escrever num diário. Outras preferem caminhar, meditar, fazer yoga ou dedicar-se a um hobby criativo. Seja o que for que a ajude a sentir-se mais centrada, invista nisso. Preparar-se emocionalmente para a FIV também é criar ferramentas a que possa recorrer quando tudo parecer incerto.

A Dra. Alexandra Silva refere:

“Mesmo pequenos rituais diários podem dar-lhe uma sensação de controlo. Encontre algo que a faça sentir-se mais próxima de si mesma, especialmente nos dias mais difíceis.”

Como se preparar fisicamente para a FIV

Não precisa de comer de forma perfeita, treinar todos os dias ou ter o estilo de vida mais saudável do mundo para iniciar a FIV. Mas cuidar do seu corpo com alguns gestos consistentes pode ajudá-la a sentir-se mais preparada e apoiar o tratamento. Se quer aprender a preparar o seu corpo para a FIV, aqui estão algumas sugestões:

1. Alimentação

Priorize uma alimentação equilibrada e nutritiva, com:

• Cereais integrais, fruta e vegetais
• Gorduras saudáveis (como abacate, frutos secos e azeite)
• Proteína (de ovos, leguminosas, tofu, peixe ou carne magra)
• Muita água

Se tiver défices (como ferro ou vitamina D), fale com o seu médico sobre suplementação. Também pode ser útil começar a tomar um suplemento pré-natal com ácido fólico entre 1 a 3 meses antes do ciclo.

2. Exercício físico

Algum movimento regular e suave pode ajudar a melhorar a circulação, a reduzir o stress e a dormir melhor. Caminhadas, natação, yoga ou Pilates são boas opções. Durante a estimulação ovárica, o médico pode recomendar evitar treinos intensos ou atividades com risco de torção dos ovários.

3. Sono

Tente dormir entre 7 a 9 horas por noite. Um bom sono ajuda a regular as hormonas e melhora o sistema imunitário. Comece a desacelerar mais cedo ao final do dia e crie uma rotina para adormecer com mais tranquilidade.

4. Reduzir o álcool, a cafeína e o tabaco

Se consome bebidas alcoólicas ou fuma, o ideal é parar antes do início da FIV. Ambos podem afetar a qualidade dos óvulos, espermatozoides e as hipóteses de sucesso. A cafeína com moderação (um café por dia) costuma ser segura, mas fale com o seu médico se tiver dúvidas.

5. Gestão de condições de saúde

Se tem alguma condição como SOP, endometriose, problemas de tiróide ou doenças autoimunes, discuta com o seu médico como geri-las durante a FIV. Manter estas condições estáveis pode melhorar as probabilidades de sucesso.

Conhecer o estado geral da sua saúde é apenas uma parte da preparação. O passo seguinte é fazer os testes de fertilidade, que permitem que a clínica tenha uma visão mais clara do que se passa no seu corpo e elabore um plano de tratamento adequado.

Testes de fertilidade: o que esperar

Antes de iniciar o ciclo, a clínica fará uma série de testes de fertilidade para obter uma visão completa da sua saúde reprodutiva. Estes exames ajudam o médico a definir o protocolo e a medicação mais adequados para si.

Eis alguns exames comuns na preparação para FIV:

Análises hormonais ao sangue
Estas análises mostram como está a funcionar o seu sistema hormonal. Normalmente incluem:

• AMH (hormona antimülleriana), que estima a sua reserva ovariana (quantos óvulos pode ainda ter). 
• FSH (hormona folículo-estimulante) e LH (hormona luteinizante), que mostram como o cérebro comunica com os ovários e se há ovulação regular. 
• O estradiol, uma forma de estrogénio essencial para o desenvolvimento dos óvulos e do revestimento do útero. 
• Prolactina, uma hormona que pode interferir com a ovulação se tiver níveis elevados. 

Ecografia transvaginal

Este exame permite contar os folículos antrais (pequenas estruturas que podem originar óvulos maduros). Também avalia o formato, a posição e o revestimento do útero, e pode detetar condições como miomas, quistos ou pólipos.

Histerossalpingografia (HSG) ou ecografia com soro fisiológico

Exames especializados para verificar se o útero está saudável e se as trompas de Falópio estão abertas. A HSG usa contraste e raio-X; a ecografia com soro fisiológico (sonohisterograma) usa água estéril e ecografia. Apesar de a FIV não depender das trompas de Falópio, saber se estão bloqueadas ou danificadas pode influenciar o plano de tratamento.

Análise ao sémen (para casais que usam esperma)

Se utilizar espermatozoides do seu parceiro (ou de um dador), será feita uma análise para verificar a quantidade, motilidade (a capacidade de se mover) e morfologia (forma) dos espermatozoides. Estes dados ajudam a decidir se é mais indicado fazer FIV convencional ou ICSI (injeção de um único espermatozoide no óvulo).

Rastreio de doenças infeciosas

Ambos os membros do casal serão testados para doenças como HIV, hepatite B e C, e sífilis. Estes são exames de segurança padrão para proteger a sua saúde e garantir que os gâmetas (espermatozoides ou óvulos) e embriões tenham segurança no laboratório.

Rastreio genético ou cariótipo

Os testes genéticos podem parecer muita informação para assimilar, especialmente se é a primeira vez que faz um tratamento de fertilidade. Mas podem ser uma ferramenta útil para dar à clínica os dados necessários para aumentar as hipóteses de sucesso. Estes testes podem incluir:  

•     Cariótipo: análise ao sangue para detetar alterações cromossómicas que possam estar na origem da infertilidade ou de perdas gestacionais. Útil especialmente se houve abortos recorrentes ou ciclos de FIV falhados.

●     Rastreio de portadores: para verificar se há mutações hereditárias, como fibrose quística ou anemia falciforme.

Medicação para a FIV: o que esperar

Quando iniciar o ciclo, irá fazer injeções hormonais para estimular os ovários a produzirem vários óvulos. Estas injeções são, normalmente, administradas diariamente, durante 8 a 14 dias. 

Durante este período, será acompanhada com análises ao sangue e ecografias.

Eis algumas dicas para se adaptar à fase da medicação:

• Aprenda com antecedência como administrar as injeções. A clínica irá mostrar-lhe como o fazer.
• Use alarmes ou lembretes para não falhar nenhuma dose.
• Prepare-se para lidar com possíveis efeitos secundários, como inchaço abdominal, alterações de humor ou dores de cabeça.   
• Mantenha a medicação refrigerada, caso necessário. Siga as instruções de conservação.
• Avise a clínica se se sentir mal ou se tiver uma reação adversa.

As alterações hormonais podem provocar emoções intensas, cansaço ou sensação de confusão mental. Tudo isto é normal. Seja gentil consigo mesma e tente encarar o processo um dia de cada vez.

Planear a sua rotina em função da FIV

A FIV requer tempo e pode interferir com a sua rotina habitual. Preparar-se para a FIV também passa por antecipar o impacto que o processo terá no seu dia a dia e ajustar o que for necessário.

• Trabalho: É possível tirar dias de folga para consultas, monitorizações ou recolha de óvulos? Algumas pessoas preferem descansar durante a recolha e a transferência; outras continuam a trabalhar durante a maior parte do ciclo.
• Cuidar de filhos: Se já tiver filhos, pode ser útil organizar um apoio adicional nas fases mais exigentes do ciclo.
• Consultas: Use um calendário ou uma agenda para acompanhar datas de ecografias, horários de medicação e visitas à clínica.

Tente também criar momentos para descansar, sempre que possível. A FIV pode consumir muita energia. Ter espaço para respirar é essencial.

Criar um sistema de apoio eficaz

Uma das formas mais úteis de se preparar para a FIV é rodear-se de pessoas que compreendem o que está a viver. Isso pode incluir:

• Alguém amigo ou da sua confiança para a acompanhar nas consultas mais importantes
• Um terapeuta especializado em fertilidade ou saúde reprodutiva
• Fóruns online ou grupos de apoio locais para pessoas em tratamento de FIV
• Pessoas que saibam quando ajudar e quando apenas ouvir

É perfeitamente legítimo pedir ajuda. A FIV é um tratamento médico, não é algo que precise de enfrentar sozinha. 

Quer precise de boleia até à clínica, de companhia durante a espera de duas semanas, ou apenas de alguém que lhe leve um jantar a casa, aceite esse apoio.

Dinheiro, logística e tarefas administrativas

A FIV pode ter um custo elevado, especialmente se for necessário repetir o ciclo. Ter uma visão clara das despesas ajuda a reduzir o stress financeiro durante o processo.

• Peça à clínica um orçamento detalhado
• Verifique se tem algum tipo de cobertura ou seguro de saúde que inclua tratamentos de fertilidade
• Reserve um valor extra para medicação, exames adicionais ou custos inesperados
• Guarde os recibos para efeitos fiscais ou reembolsos

Preparar-se para a espera de duas semanas

Os dias após a transferência embrionária podem ser a parte mais difícil de todo o processo. É comum sentir-se ansiosa, hiper atenta a qualquer sintoma ou com vontade de fazer o teste mais cedo do que o recomendado. Estas sugestões podem tornar este período mais leve:

• Planeie distrações suaves: livros, séries, caminhadas curtas, refeições simples
• Evite pesquisar sintomas online
• Decida com antecedência se quer fazer um teste caseiro antes da análise ao sangue
• Fale com alguém da sua confiança se estiver a sentir-se instável

Não está a fazer nada de errado por se sentir esperançosa. Nem por sentir medo. Está simplesmente no meio de algo profundamente humano: a espera por um possível novo começo.

Depois do primeiro ciclo de FIV

Independentemente do resultado, o seu primeiro ciclo de FIV é um marco importante. É fisicamente exigente, emocionalmente intenso e logisticamente desafiante. Seja qual for o resultado, saiba que fez algo corajoso.

Se o ciclo não resultar numa gravidez, dê tempo a si própria antes de decidir o que fazer a seguir. 

Pode ser útil conversar com a sua equipa médica sobre possíveis ajustes para ciclos futuros, ou fazer uma pausa para recuperar forças. Se o ciclo for bem-sucedido, entrará numa nova fase: o início da gravidez, com todos os seus próprios altos e baixos.

Em qualquer um dos casos, preparar-se para a FIV não é só sobre um momento isolado. É sobre preparar-se para o caminho como um todo, com apoio, autocompaixão e informação que lhe dê mais controlo.

Reflexão final

Preparar-se para a FIV é uma experiência profundamente pessoal. Não existe uma forma perfeita de o fazer. Mas ao dar passos para compreender o processo, cuidar do seu corpo, gerir as suas emoções e criar um sistema de apoio, está a construir a melhor base para esta etapa.

Este pode ser o seu primeiro ciclo, mas também é a sua primeira oportunidade de mostrar a si própria o quão forte e capaz realmente é.

Se não sabe por onde começar ou se gostaria simplesmente de conversar com alguém que compreenda este processo, pode entrar em contacto com a equipa da Ferticentro. Estamos aqui para ouvir, orientar e apoiar, em todas as fases do processo.