O que é a infertilidade?
O tratamento da infertilidade é uma área da Medicina complexa e sujeita a evolução e progressos constantes. É também um tema que poderá ser confuso e particularmente sensível para todos aqueles que estão a tentar ter filhos e formar uma família.
O QUE É A INFERTILIDADE
Para se conhecer melhor o problema da infertilidade, há que começar por compreender o que é a fertilidade, ou seja, a capacidade de conceber uma criança.
Para que a concepção em condições naturais possa ocorrer, ambos os membros do casal devem ser saudáveis e não devem existir problemas na produção de ovócitos e espermatozóides. Além disso, a mulher deve ter trompas normais e permeáveis e um útero com condições propícias à nidação do embrião.
O momento em que ocorre a relação sexual é também importante: para que a fecundação possa acontecer, o espermatozóide tem que encontrar o ovócito (ou óvulo) na trompa, na altura da ovulação.
Com isto, não se pretende dizer que a relação sexual tenha que acontecer no preciso momento em que ocorre a ovulação: há um período de cerca de dois dias em que as condições de fecundação são as ideais, uma vez que os ovócitos - depois de libertados a partir do ovário - podem esperar 12 a 24 horas até serem fecundados. Por outro lado, os espermatozóides podem permanecer no corpo da mulher - activos e com capacidade de fecundação - por um período de 12 a 48 horas.
Ainda assim, não nos devemos esquecer que numa situação “normal” de um casal que não tenha problemas de fertilidade, a probabilidade de se conseguir engravidar em cada ciclo é de 20 a 30%.
As hormonas
As hormonas são mensageiros químicos produzidos pelo organismo, existindo várias que estão envolvidas no processo de produção de espermatozóides e ovócitos. Se ocorrerem problemas com o seu funcionamento, poderão surgir dificuldades em se conseguir uma gravidez.
Estima-se que pelo menos 20% das mulheres com problemas de infertilidade sofram de perturbações hormonais que causam problemas na ovulação. Nestas situações, o recurso a medicamentos indutores da ovulação é uma das soluções clínicas habitualmente utilizadas.
No homem, os desequilíbrios hormonais também poderão estar na origem de problemas ao nível da produção de esperma.
Produção de ovócitos e espermatozóides
Na Mulher
A produção de ovócitos envolve a interacção de várias hormonas diferentes. O processo inicia-se numa parte do cérebro chamada hipotálamo, com a produção da hormona libertadora das gonadotrofinas (GnRH). Por sua vez, esta vai estimular a hipófise, que é uma pequena glândula localizada na base do cérebro, a libertar a hormona folículo-estimulante (FSH). A FSH vai actuar nos ovários e promover o desenvolvimento de folículos (onde estão localizados os ovócitos).
Os folículos produzem estrogénios, que estimulam a hipófise a libertar outra hormona: a LH, ou hormona luteinizante, que promove a ruptura do folículo e a libertação do ovócito – a este mecanismo chama-se ovulação.
A partir do folículo sai o corpo amarelo (corpo lúteo), que por sua vez produz outra hormona, a progesterona, que prepara o útero para que este se torne num ambiente favorável à implantação do ovócito fertilizado.
No Homem
A hormona responsável pela síntese do esperma é a testosterona, cuja produção no homem é controlada pelas mesmas hormonas que controlam a ovulação nas mulheres.
Tal como sucede na mulher, a GnRH produzida pelo hipotálamo no cérebro também desencadeia a libertação de FSH e LH a partir da hipófise. No homem a FSH estimula a produção de espermatozóides nos testículos, enquanto a LH estimula os testículos a produzirem testosterona.
Os espermatozóides viajam a partir dos testículos para o epidídimo (que é um tubo enrolado com cerca de 12 metros), onde amadurecem. Quando um casal tem relações sexuais, os espermatozóides percorrem o canal deferente, em direcção ao pénis. No momento da ejaculação, os espermatozóides são impelidos a partir do pénis para o interior da vagina da mulher.
Ovulação e ciclo menstrual
O número de ovócitos com que as raparigas nascem pode chegar aos 400.000. No entanto, o organismo não tem capacidade para produzir mais ovócitos ao longo da vida. Na puberdade produzem-se as hormonas que irão desencadear o processo de maturação dos ovócitos.
Até à menopausa, as mulheres libertarão um ovócito por mês, mais ou menos no 14º dia do ciclo menstrual (que tem início no primeiro dia do período). O ciclo menstrual médio dura cerca de 28 dias, embora este número possa variar de mulher para mulher. O período em que a mulher é mais fértil situa-se habitualmente a meio do ciclo.
O ciclo menstrual
Dias 1 a 5 | O endométrio (que reveste o útero) é destruído e libertado na menstruação (o chamado fluxo menstrual).
Dias 6 a 14 | O endométrio vai-se reconstruindo gradualmente e, sob a influência dos estrogénios, torna-se espesso e suficientemente irrigado, ficando assim preparado para poder receber e nutrir um embrião. Ao mesmo tempo, os estrogénios fazem com que o muco produzido pelo colo do útero passe a ter uma forma mais favorável a que os espermatozóides o possam atravessar.
Dias 15 a 28 | Níveis progressivamente maiores de progesterona produzida a partir do corpo amarelo fazem com que o endométrio esteja cada vez mais irrigado, criando deste modo o ambiente perfeito para a implantação do embrião. Se o ovócito não for fecundado - ou se for fecundado mas não se conseguir implantar no endométrio - é eliminado. Nesse caso, o corpo amarelo degenera e os níveis de progesterona baixam, o que faz com que os vasos sanguíneos no endométrio necrosem, ocorrendo contracção das paredes do útero. O ciclo menstrual reinicia-se novamente.
Curiosidades sobre a fertilidade
O ovócito sai do folículo e é libertado a partir do ovário, percorrendo de seguida as trompas de Falópio. Na trompa, o ovócito e o espermatozóide fundem-se numa única célula;
O ovócito fertilizado demora então cerca de três dias até atingir o útero. Nesse percurso, as suas células dividem-se. Dois a três dias depois de chegar ao útero, o embrião (agora constituído por várias células) implanta-se no endométrio.
Dos cerca de 40-200 milhões de espermatozóides que são libertados no interior da vagina durante uma relação sexual, apenas uma pequena parte resiste ao difícil percurso através do colo do útero, útero e trompas de Falópio. Aliás, apenas um espermatozóide conseguirá penetrar no interior do ovócito.
E não é verdade que ter relações sexuais pouco frequentes aumente a probabilidade de conseguir gravidez: a melhor forma de aumentar as probabilidades de concepção é ter relações sexuais de dois em dois dias.