Contacte-nos
Contacte-nos
Home > Por que é tão difícil ir ao psicólogo - 7 Dicas
Como praticar o Auto-cuidado emocional durante um tratamento de infertilidade?

Por que é tão difícil ir ao psicólogo - 7 Dicas

Por Ferticentro
Publicado a 2020-09-21

Uma consulta com um psicólogo pode ser o primeiro passo para a nossa vida melhorar bastante. Mas muitas vezes encontramos motivos, e algumas desculpas, que nos impedem de procurar ajuda. Estas razões são mais ou menos conscientes e até difíceis de admitir. Consegue identificar-se com alguma delas?  

  1. “Ir ao psicólogo é caro, é um luxo”. As consultas de psicologia têm um intervalo de valores que pode ir dos 20€ aos 120€, dependendo do grau de especialidade e experiência do profissional, da região geográfica, entre outros fatores. Hoje em dia, também é possível encontrar seguros de saúde que cobrem consultas de psicologia, e até mesmo consultas gratuitas em associações e instituições sociais. Se pensarmos e fizermos contas aos cafés que bebemos, aos jantares que fazemos ou os telemóveis que compramos, no final do mês, vamos talvez ter o mesmo valor de uma ou várias consulta de psicologia. É sempre uma questão de percebermos a prioridade, a importância e o benefício para nós. A saúde mental deve ser um investimento, cujos lucros recolhemos de imediato na nossa vida.

  2. “Tenho medo de dizer o que penso e ser julgado”. Um psicólogo tem formação durante 5 anos, seguida de 1 ano de estágio para a Ordem dos Psicólogos, além de inúmeras outras formações profissionais necessárias ao longo da carreira. Para além disso, um psicólogo está obrigado ao sigilo profissional. Ele é também aconselhado a ter o seu próprio psicólogo e a fazer a sua própria psicoterapia (um requisito não obrigatório mas muito valorizado pela Ordem dos Psicólogos e essencial para a prática clínica). A empatia e a aceitação incondicional do outro são competências que estão no seu “ADN”, pelo que não tem que se preocupar, o maior objetivo do psicólogo será compreendê-lo e ajudá-lo, fazê-lo sentir-se confortável num espaço que interprete como seguro e protegido. A mente humana, os seus pensamentos, emoções ou comportamentos, não serão alvo de juízos de valor, mas sim de profundo interesse e humanismo.

  3. “Já fui uma vez e não gostei”. Efetivamente, a relação terapêutica é fundamental e sem ela, tudo o resto estará comprometido. Este “rapport” (nome dado à relação de empatia e confiança entre psicólogo e paciente) pode não ser imediato e demorar algumas sessões. Ou podemos mesmo não nos identificar com o psicólogo, a sua personalidade, a sua atitude, forma de comunicar ou modelo terapêutico, e ser necessário procurar outro. Como em todas as profissões, também podem existir bons e maus psicólogos. Mas isso não significa que a maioria não sejam profissionais com vocação e dedicação. O importante é não desistir e encontrar alguém com quem se sinta naturalmente confortável.

  4. “Os meus amigos são os meus psicólogos”. Os amigos (os namorados ou os familiares) são uma fonte vital de escuta e de apoio nas nossas vidas. Enquanto amigos, podem conhecê-lo bem, mas não dispõem da objetividade e das técnicas terapêuticas que um psicólogo demorou anos a aprender. Por muito bons amigos que sejam, não são “psicólogos” nem os substituem.

  5. “Não preciso, sou capaz de resolver tudo sozinho”. Este sentimento de auto-eficácia é muito importante e não é objetivo do psicólogo “psicologizar” todas as pessoas. Além disso, o psicólogo não vai resolver os seus problemas por si nem vai dizer-lhe o que fazer. Ele vai ajudá-lo, escutando atentamente, clarificando ideias, ensinando-lhe novas estratégias e competências, ressignificando as suas experiências, percebendo os seus gatilhos. O caminho será feito com uma bússola, mas continua a ter que ser feito por si (e com uma bagagem mais leve).

  6. “Isso é para os malucos e fracos da cabeça”. Ainda existe na nossa sociedade um estigma muito enraizado em relação à saúde mental. A doença mental assusta, requer compreensão e aceitação, e é mais fácil ignorá-la ou ridicularizá-la. Porque isso nos torna “imunes” a ela, “superiores” e mais “fortes”. Esta é apenas uma ilusão, porque na verdade, ninguém está livre da psicopatologia, e a maior parte da população desenvolve um problema de saúde mental ao longo da sua vida. Reconhecer esse problema e procurar ajuda especializada é de uma enorme coragem. Mas ir ao psicólogo não significa ter uma doença mental, essa é outra ideia errada. Podemos ser pessoas saudáveis e funcionais, e ainda assim ter questões que necessitem de ser abordadas com a perspectiva de um psicólogo. Podemos querer conhecer-nos melhor, perceber-nos, evoluir, cultivar-nos, melhorar o nosso bem-estar e qualidade de vida. E para isso, também serve um psicólogo.

  7. “Não podem receitar comprimidos”. A intervenção psicológica assenta num modelo não farmacológico, e os psicólogos em Portugal não estão habilitados a prescrever medicamentos. Contudo, a terapia farmacológica pode ser um método complementar valioso no auxílio dos tratamentos de algumas patologias. Nem todas as pessoas necessitam de fármacos (além dos efeitos secundários, adversos e de habituação indesejáveis) e os mesmos não têm o mesmo impacto nem substituem uma terapia psicológica. É comum psicólogos e psiquiatras trabalharem em conjunto nesse sentido, com vista ao melhor interesse e bem-estar do paciente. Todas estas razões para não ir ao psicólogo não são mais do que ideias preconcebidas, inseguranças, vergonha e medo. É certo que as consultas de psicologia envolvem a exposição da dor e sofrimento do paciente, e é natural que queiram evitar ou adiar esse confronto consigo mesmos. Estão no seu direito. Temos medo de nos ouvir falar sobre a nossa dor, mas evitá-la ou branqueá-la todos os dias, durante meses ou anos a fio, pode ser muito desgastante e trazer consequências noutros aspetos da nossa vida. E por vezes, seria tão mais fácil e poupava-se tanto sofrimento recorrendo a um psicólogo. Além do mais, há momentos em que a terapia também pode ser leve e divertida, mesmo quando o tema é muito sério. No fim de uma consulta, é comum pensar-se “nunca achei que fosse assim”, “como nunca tinha pensado nisto desta forma?”, “porque nunca tinha experimentado vir antes?”. Se isso acontecer, está tudo certo: deu uma oportunidade a si próprio de cuidar de si.

Margarida Fonseca, psicóloga da Ferticentro